sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

ENCONTRO COM O AMOR





Faltavam seis minutos para as seis no relógio do balcão de informações da Estação Grande Central de Nova York. O alto e jovem tenente do Exército ergueu o rosto queimado pelo sol e apertou os olhos para verificar a hora exata. Seu coração batia tão fortemente que o sobressaltava. Dentro de seis minutos ele veria a mulher que havia ocupado um lugar especial na sua vida durante os passados 13 meses, a mulher que ele nunca vira, mas cujas palavras escritas lhe tinha dado inquebrantável alento.

O Tenente Blandford lembrava-se especialmente dum certo dia, no mais aceso da luta, quando seu avião fora apanhado no meio dum grupo de caças inimigos.

Em uma de suas cartas ele havia confessado que muitas vezes sentia medo e, poucos dias antes desse combate, recebera a sua resposta: “É claro que você medo...Todos os homens corajosos tem. Na próxima vez em que você duvidar de si mesmo, quero que ouça a minha voz recitando para você: ‘Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque Tu estas comigo...” E havia lembrado e essa lembrança renovara a sua força.

Agora ele ia ouvir a sua voz real. Faltavam quatro minutos para as seis. Trazia uma flor no vestido, mas não era a pequena rosa vermelha que haviam combinado. Alem disso, a moça devia ter apenas uns 18 anos e Hollis Meynell dissera-lhe que tinha 30. “Que tem isso ?”, respondera ele . “Eu tenho 32”. Na realidade, tinha apenas 29.

Lembrou-se então do livro que lera, lá no campo de treinamento. Chamava-se Servidão Humana, e em todo o livro havia anotações numa letra de mulher. Nunca imaginara que uma mulher pudesse devassar o coração dum homem com uma compreensão e ternura. O nome dela estava escrito no livro: Hollis Meynell. Procurou num catalogo de telefones de Nova York e encontrou o seu endereço. Escreveu-lhe e ela respondeu. No dia seguinte foi mandado para a frente de combate, mas continuaram a corresponder-se.

Durante 13 meses ela lhe respondera fielmente. Mesmo quando as suas cartas não chegavam, ela continuava escrevendo e agora ele estava convencido de que a amava e era correspondido.

Ela, entretanto, sempre tinha recusado a ceder a seus reiterados pedidos para que lhe enviasse uma fotografia. Justificava-se da seguinte forma: “ Se o sentimento que você nutre por mim tiver algum fundo de sinceridade, a minha aparência pouco importa. Suponha que eu seja bonita. Seria sempre perseguida pela idéia de que você jogou apenas nisso, e essa espécie de amor repugnar-me-ia. Suponha que eu seja feia ( e você deve admitir que isso é o mais provável) então eu viveria receosa de que você só continuasse escrevendo-me por se sentir só e não ter mais ninguém. Não, não me peça o meu retrato. Quando voltar a Nova York, então me verá e poderá tomar uma decisão.

Um minuto para as seis... tirou uma tragada do cigarro nervosamente. E neste momento o coração do Tenente Blandford deu um pulo.

Uma jovem caminhava em direção a ele. Era alta e delgada; seus cabelos louros e ondulados descobriam umas orelhinhas delicadas. Os olhos eram tão azuis como o céu , os lábios e o queixo de uma suave firmeza. Com seu costume verde pálido, era a verdadeira imagem da primavera.

Adiantou-se para ela esquecendo-se de notar que não trazia rosa nenhuma. Ao perceber-lhe o movimento, um sorriso leve e provocante aflorou aos lábios da moça.

- Vai para o mesmo lado que eu, soldado ? – murmurou.

Ele avançou mais um passo. E então viu Hollis Meynell.

Estava parada logo atrás da moça e era uma mulher de quarenta e muitos anos, de cabelos grisalhos sob um chapéu surrado. Era mais do que rechonchuda, tinha tornozelos grossos e calçava sapatos de salto baixo. Mas trazia uma rosa vermelha no casaco amarrotado.

A moça do costume verde continuava afastando-se rapidamente.

Blandford sentiu como se estivesse sendo partido em dois, tão vivo era o seu desejo de seguir a moça e tão profundo o anelo que o impelia para aquela mulher cujo espírito acompanhara tão fielmente o seu, sustentando-o em todos os momentos. E agora ela estava ali. Podia ver que o seu rosto redondo e pálido era doce e compreensivo e que os seus olhos cinzentos tinha um brilho ardente.

O Tenente Blandford não hesitou. Seus dedos apertaram o exemplar de Servidão Humana com que se faria reconhecer. Aquilo não seria amor, mas seria algo de precioso, uma amizade pela qual sempre se sentira e sempre se sentiria reconhecido...

Endireitou-se, fez uma saudação e estendeu o livro para a mulher, embora, enquanto falava, sentisse todo o amargor do seu desapontamento.

- Eu sou o Tenente Blandford, e a senhora...deve ser Hollis Meynell. Alegro-me por ter podido vir encontrar-se comigo. Posso...convidá-la para jantar ?

O rosto da mulher abriu-se num sorriso benévolo.

- Eu não sei de que é que está falando, moço – respondeu. – Aquela moça de costume verde me fez botar esta rosa no casaco. E disse que, se o senhor me pedisse para acompanhá-lo, lhe dissesse que ela está esperando naquele restaurante do outro lado da rua. Explicou que era uma espécie de teste.

(História verídica , durante a Segunda Guerra Mundial)...transcrito em 14-05-2009. Plínio Linhares.

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